domingo, 13 de novembro de 2011

O KU PAquê?

O helicóptero voando com seu barulho ameaçador de vôo baixo, me lembra a todo momento que aparentemente algo mudou lá fora. Em casa, que não é a minha, a lembrança do teatro dessa madrugada me faz querer escrever sobre o que tenho observado e refletido a partir das ruas, internet, TV  e de minha história e vida nos tantos lados de dentro de fora que são partes de mim.

É estranha a sensação que tenho de que esse é o único momento em que me dão o microfone e minha voz é ouvida. Por que não somos procurados em outros momentos para saber como estamos? Porque só aparecemos na TV assim? Se for só nesses momentos de encenação para a classe média, quando seremos vistos novamente como parte da sociedade pela sociedade, se ocupados já não somos motivo de matéria jornalística. Aliás começei a pensar sobre a palavra ocupação ... ocupa ... ocupar... quem ficará ocupado - recordo de dois sentidos da palavra ... o de preencher e de ter o que fazer? enfim ... delírios

As ruas vazias me chamam a atenção para o que se pode vir a partir de agora ... aluguéis mais altos, mais pessoas de fora morando na Rocinha, menos gente armada no caminho de casa, menos música alta depois das 22:30, menos ou nenhum baile com cerveja a 1 centavo ou liberada, menos moto táxi subindo e descendo, mais gringos nas ruas tirando fotos da paisagem da favela como favela e não como bairro, menos meninos armados e mais homens f ar d ados, mais antenas SKY nas paredes e lages - pois quanto mais próximos ficamos da ocupação mais promoções e pacotes de TV SKY foram vendidos e anunciados nas ruas que já se esvaziavam, bocas mudas sem promoção, policiais nas ruas e becos - fazendo o quê? Pagaremos o gatonet para quem?

Que serviço público vem com a UPP... o serviço da polícia?! ... vejo mais bancos e lojas abrindo ... isso  é o que vejo ... ouço pouco sobre o bom atendimento do posto de saúde na curva do S. O serviço privado ocupa de verdade o espaço com suas ofertas e promoções da idéia de melhor qualidade de vida  a partir das tão necessárias TVs de plasma, computadores (de fato necessários, mas com internet), celulares, colchões, comidas congeladas e enlatada. Quantas UPPs teremos, se antes eram várias gerencias distribuídas no espaço a fim  de melhor administrar o território ocupado.

Por ironia - ou simples coincidência - li essa semana uma matéria sobre as ocupações culturais e políticas (ocupa rio - Cinelândia, junto - teatro glaucio gil, manifesta... ), num desses cadernos do jornal O GLOBO, que estão acontecendo numa espécie de modismo aqui na cidade maravilhosa -  no movimento punk era chamado de OKUPA.  Esses grupos de artistas se inspiraram na polícia ou a polícia se inspirou neles? Pena que tais grupos de ocupação cultural não vem junto a polícia. Se for como no Alemão daqui a pouco teremos algum show, mas e depois? Será que finalmente o centro cultural da Rocinha será inaugurado e  com a ocupação dos artistas e grupos da própria Rocinha? Politicamente falando não há momento mais propcio para a abertura desse espaço, já finalizado em sua construção e conforto. Acho até que estava só esperando a ocupação da polícia para funcionar - atores com o papel protagonista desse jogo cênico. Os diretores, técnicos, camareiras, maquiadores e produtores estão na cochia. Sabemos quem são, mas não vemos e sem eles não teríamos esse perene espetáculo.

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