segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O encontro

Flávio Carvalho*

Uma noite tensa e calma, é isso que posso dizer sobre a madrugada de 13 de novembro de 2011, dia da ocupação do Bope na Rocinha. Tensa pela possibilidade de um confronto armado entre policiais e bandidos, e calma por causa do silêncio, um silêncio que cala a alma. Era possível ouvir de longe vozes e gritos. Quem era? Do bem ou do mal? Não sabia. Somente se ouvia um silêncio, que logo foi partido pelo helicóptero da marinha.

Os rasantes, as idas e vindas do helicóptero, deixava-me cada vez mais apreensivo para o que aconteceria em seguida. Quando recebi a noticia do êxito da operação, saí de casa às 7h, com duas câmeras fotográficas, sentido uma grande esperança que tudo dera certo. No meio do caminho, encontrei um carro com quatro oficiais do Bope e um morador, todos eles parados em frente ao banco da Caixa.

Não pude perder a oportunidade, parei olhei para os olhos deles como quem diz, tenho que fotografar. Peguei do bolso a minha máquina pequena e fiz uma foto mais de registro do que artística, sem a preocupação com ângulo, luz e enquadramento.  Eu tremendo, ainda sentindo o medo que todo morador de favela sente ao se deparar com policiais do Bope, fotografei. Não fizeram pose.

O oficial sentado na borda da caçamba da pick-up disse um tanto ironicamente: “você tirou a foto, agora abre a mochila”. De pronto retirei a câmera profissional que estava em seu interior. Sem me mostrar, ele pôs a mão dentro da minha bolsa e procurou alguma coisa que com certeza não sabia o que era. Perguntou de onde eu era, o que eu ia fazer com a foto. Eu disse com a voz tremula, que participava de um site comunitário e que a foto poderia ser publicada lá.



Então ele me liberou. Quando fui tentar tirar mais uma foto, desta vez, de frente para o carro, o homem que estava no carona me impediu com uma ordem autoritária. Tirei-a mesmo assim. O resultado foi ruim, tremulo, assim como meu estado de espírito naquele momento. Ainda mais um último aviso dos oficiais: “Tá dominado”.


* Fotojornalista, estudante de jornalismo da PUC-Rio e morador da Rocinha

Rocinha

2 comentários:

Sonia Travassos disse...

Parabéns pela iniciativa, querido Flavio!! Um conselho de quem passou sete meses dentro da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Estado e acompanhou a instalação das UPPs do Complexo do São Carlos: ou a comunidade se fortalece como ator coletivo e dispensa a tutela do Estado ou vai apenas ser oprimida por outros grupos. qualquer coisa que o Governo do Estado fizer na Rocinha será em favor dele mesmo, não pelos moradores da favela. Força para todos aí! Bjkas e luz pra Rocinha! Sonia Travassos.

Joyce Trindade disse...

Muito bom, Flávio! Isso é que é espírito jornalístico! E coragem! Um fascinante registro. E parabéns pelo blog! Joyce
joyce-pensologofalo.blogspot.com