quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Crônica de um fotojornalista perdido na favela à noite


Rafael Caetano*




Domingo, 13 de novembro de 2011, 22 horas. A Rocinha está pacificada. A segurança dos moradores, agora, está nas mãos da polícia. A favela que se estende da Gávea até o São Conrado é um desafio não apenas para a logística de guerra do Estado, mas para quem se movimenta por ela. Inclui-se ai fotojornalistas.

O caminho da Estrada da Gávea na altura do número 385 até a Macega, parte localizada no morro dois irmãos, é longo e todo ele feito sem policiamento. Já são 22: 30. Alguém pergunta: “E agora quem vigia para não ter roubo na Rocinha?”, questiona o artesão Alessandro Silva, preocupado com a segurança. Ele mora na Rua dois e ganha a vida com artesanato. Seu medo: “ ter a casa roubada”, diz.

A subida até a Macega é feita por escadas inclines. A forte chuva que desaba sobre o Rio de Janeiro torna o caminho um rio. “Pelo menos limpa, já que a Comlurb não vem aqui” reclama Joana Mendes enquanto tenta conter o lixo que entra pela sua porta.

Por todo o caminho não se avista um policial. É noite e a segurança pública? Chego na Macega para fotografar do alto a noite da Rocinha já pacificada. A chuva e uma série de conversas com moradores pelo caminho me fazem mudar de plano. Quem sabe não saio daqui com uma matéria?     

A meia noite retorno sem foto e matéria.  Por todo o caminho não se vê um policial ou  uma boa foto. A chuva fina, a lama e o deserto das ruas, becos e vielas me fazem lembrar um gueto dos filmes sobre a segunda guerra mundial. Quem sabe Varsóvia?  

Perco-me. Não porque não saiba o caminho, mas porque todos pareciam perdidos naquela noite em que a liberdade e o indivíduo era algo a ser encontrado.    



*É fotojornalista, morador da Rocinha e estudante de jornalismo da PUC-Rio.  



    

Rocinha

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